quinta-feira, 13 de junho de 2013

O Chelsea de Mourinho - 2004/2005

Depois de um texto sobre a grande equipa do Arsenal de 2003/2004 e numa altura em que o regresso de Mourinho ao Chelsea faz furor em todo o mundo nada melhor que recordar a primeira passagem do "Special One" pelos "blues", iniciada na época 2004/2005.


José Mourinho chega a Londres como campeão europeu e, como o próprio fez questão de salientar, não era mais um, era especial. Especial era também o Chelsea, um clube que começou a ganhar mais expressão em meados da década de 90 e que em 2003, aquando da compra pelo magnata russo Abramovich, se tornava um dos clubes com mais poder económico do mundo mas que precisava de transformar isso em títulos.
Mourinho chegou a um Chelsea em renovação. Do plantel da época anterior tinham saído: Crespo, Verón, Hasselbaink, Desailly, Melchiot, Gronkjaer e Petit, Mourinho tinha de restruturar o plantel e felizmente dinheiro não faltava.

Mourinho "trás na mala" reforços portugueses, Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho, pedras basilares do Porto campeão europeu; Tiago, um dos jogadores mais importantes do Benfica de Camacho; e Nuno Morais, defesa central do Penafiel, 3º classificado na Liga de Honra, uma enorme surpresa feita por Mourinho.
O ataque "blue" estava desfalcado e Mourinho procurava reforços. Vai buscar Drogba, 3º melhor marcador do campeonato francês, ao Marselha; Kezman, 2º melhor marcador do campeonato Holandês, ao PSV; do mesmo PSV traz Robben, um extremo muito criativo, grande velocidade e um pé esquerdo fantástico. O lugar de guarda redes também tinha algumas lacunas mas a contratação de Cech ao Rennes já estava alinhavada pelo seu antecessor Ranieri.

Para além de remodelar a equipa Mourinho tinha de implementar uma nova táctica. Se no Porto começou com um 4-3-3 com um trio inesquecível de meio campo (Costinha, Maniche, Deco) e foi mudando para um 4-4-2 losango, acrescentando Pedro Mendes ao trio, no Chelsea Mourinho acaba com o 4-4-2 clássico de Ranieri ( e de quase todas as equipas inglesas) e volta ao 4-3-3 com um trio igualmente inesquecível (Makélelé, Tiago, Lampard).

Mourinho explicou o porquê do 4-3-3: com um trio de meio campo a equipa tem sempre vantagem contra um 4-4-2 puro, se o Makélelé não tiver nenhum dos 2 adversários em cima dele vê todo campo e pode jogar livremente, se alguém vem de encontro  a ele, um dos colegas de meio campo estará livre, se os colegas estiverem marcados e os laterais forem para o meio para ajudar, os nossos alas ou os extremos terão espaço, nenhum 4-4-2 puro pode parar isto.

E assim foi, o Chelsea de Mourinho não acabou invencível mas acabou apenas com uma derrota e com 15 pontos de avanço.


Cech: Uma das peças fundamentais no xadrez de José Mourinho e neste novo Chelsea, não que Cudicini não fosse um bom guarda-redes mas Cech era um upgrade enorme. A equipa terminou o campeonato com apenas 15 golos sofridos (!) e muito o deve ao gigante checo.

Paulo Ferreira: Mudou para um campeonato mais exigente mas continuou o Paulo Ferreira de sempre, um lateral direito muito seguro a defender e que atacava pela certa sem subidas "à maluca". É mais defesa que lateral mas era sem dúvida um dos melhores da Europa na sua posição. Fazia uma boa parceria com Joe Cole.

Ricardo Carvalho: Defesa central de classe superior, um predestinado, uma espécie de líbero dos tempos modernos, muito bom a compensar os colegas, grandes saídas com bola, ficou conhecido pelas suas arrancadas em tabela com os companheiros, aparecendo muitas vezes na área contrária. Um jogador de luxo.

Terry: O central mais físico, muito bom no jogo aéreo e no 1x1. Fazia uma parceria fantástica com Carvalho. Era um dos líderes da equipa.

Gallas: Adaptado ao lado esquerdo da defesa devido à indisponibilidade de Bridge, foi uma das boas surpresas da época, apesar de jogar contrariado na posição era raro fazer um mau jogo. Grande poderio físico, exímio no jogo aéreo, e não obstante ser central de raiz subia muito bem pela ala, fazendo cruzamentos bem aceitáveis.

Makélelé: O que lhe faltava em altura compensava em pulmão, o francês estava em todo lado, grande visão de jogo, facilidade de passe, era uma tabela que estava sempre à mão dos colegas. Um dos melhores de sempre na posição.

Tiago: Sem ser um prodígio era um jogador extremamente regular, bom no passe e com boa visão de jogo tinha as características base de um médio de transição. Tinha também uma boa distância, sendo capaz de marcar alguns golos.

Lampard: A estrela da equipa, um box-to-box perfeito, qualidade de passe, visão de jogo, força, potência, remate excelente. Foi o melhor marcador da equipa para além de ser o organizador de jogo, era a roda dentada que fazia mexer uma engrenagem bem oleada.

Joe Cole: Era o puto creativo, irreverente como poucos. Muito incisivo, sem medo de partir para cima do defesa. Grande controlo de bola, drible de grande qualidade e velocidade assinalável. Meia distância fantástica.

Duff: O extremo mais equilibrado até porque jogava do lado de Gallas mas ainda assim isso não o impedia de flectir para o centro para fazer uso do seu bom remate. Era voluntarioso e versátil, um daqueles extremos de que todo o treinador gosta.

Gudjohnsen: Outra das surpresas do 11. Era provável que a aposta para o ataque fosse Mutu, Kezman ou Drogba, a verdade é que nenhum dos três agarrou o lugar que ficou assim livre para o homem de gelo islandês. Mutu acusou cocaína num controlo e Mourinho afastou-o da equipa, Kezman era um flop e Drogba ainda se estava a adaptar ao futebol inglês e por isso Gudjohnsen fixou-se no lugar de ponta de lança. Fixar não é bem a palavra pois o islandês era bem móvel, capaz de cair numa das linhas para que um dos médios (normalmente Lampard ou Joe Cole) aparecesse na carreira de tiro. Era um jogador frio na hora de finalizar e tinha uma técnica de remate muito acima da média.


Destacar ainda Drogba que apesar de não ter jogado tantos minutos como Gudjohnsen fez muitos jogos a titular e com elevado rendimento. Nota ainda para Robben que quando as lesões lhe permitiam jogar era um jogador fantástico, com grande velocidade, movimentos interiores excelentes e remates precisos.



Talvez o grande segredo para o sucesso do Chelsea nesta época fosse o facto de funcionar perfeitamente em equipa, prova disso é a distribuição dos golos. A equipa não tinha nenhum goleador mas sim os golos divididos por alguns jogadores com grande eficácia. Lampard foi o melhor marcador com 13 golos, depois Gudjohnsen com 12, Drogba com 10, Joe Cole com 8, Robben com 7 e Duff com 6. Ou seja 56 golos dividos por 6 jogadores.


Era sem dúvida uma equipa fantástica!

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